14.9.06

Televisão - Jantar Nacional


Parece-lhe apetitoso?

A família senta-se à mesa para jantar, o relógio marca ppouco mais que oito horas da noite. O pai e a mãe acabaram de chegar do trabalho, mais um longo dia de trabalho, e só querem o prazeroso e merecido jantar. Todos estão em volta da mesa. Começam o jantar, mas sabiam que logo seriam interrompidos. “Liga a TV, filho!”, diz a mãe, sabendo que já estava na hora. Vem então aquela música. A abertura musical do programa, conhecida por 99% da população nacional, indica que o programa estava para começar. Nacional. O meio pelo qual o programa chega aos lares brasileiros (e também para americanos, japoneses, ingleses...) atinge quase 100% do território. O telejornal do horário nobre, o horário do nobre jantar em família, é assistido por quase metade dos televisores ligados. Há mais de três décadas, o telejornal mais assistido do Brasil, o Jornal Nacional, faz parte do “itinerário da informação brasileiro”, sendo muitas vezes, o único colaborador para a formação da opinião crítica do telespectador.
Sérgio Chapelin na bancada do JN

A história desse telejornal se confunde com a história do telejornalismo brasileiro. O Jornal Nacional foi o programa que consolidou e construiu o espaço adquirido pelo telejornalismo na televisão. Este espaço não é grande, já foi muito maior, e o primeiro grande conflito a resolver é como conseguir recuperar o que se perdeu. Perdeu-se espaço, perdeu-se tempo. Tempo este que significa milhares e milhares de cifrões e alguns zeros após vários numerais. Entrelaçando-se com a publicidade, o meio televisivo se vendeu ao capitalismo fervoroso, e hoje sofre as conseqüências de viver em um mundo onde quem paga mais escolhe o que vai ver (e o que os outros verão também). A publicidade trouxe consigo o índice de audiência, o que tirou o espaço do telejornalismo, abrindo caminhos para programas de variedades, indo de encontro com os interesses da maior porção da camada brasileira – as classes econômicas mais baixas. O problema é que neste grupo, temos em quase sua totalidade, programas que não acrescentam muito ao cotidiano e à formação crítica de quem o acompanha.
O próximo obstáculo seria a reformulação do formato jornalístico e dos critérios de importância utilizados na escolha das notícias a serem veiculadas.
No mundo globalizado, as distâncias são "simbólicas"

Na era da interatividade, vemos as barreiras da distância diminuírem, e a informação ficar mais próxima de quem a procura, sendo acessível do jornal comprado na banca, da TV ligada em casa, da tela do computador, ou mesmo da palma da mão, através das novidades eletrônicas. Essa facilidade para ter o acesso às notícias, fez com que todos os ramos do jornalismo passassem por processos automáticos de reformulação. Com o telejornalismo não é diferente. Hoje em dia, há vários formatos de jornais veiculando na televisão, mas o que ganha cada vez mais espaço é o formato de boletim. Tanto em canais onde se tem jornalismo 24 horas por dia, como em redes de televisão aberta, onde a segmentação do público rege a grade de programação, os boletins, onde as notícias, curtas e diretas, são divulgadas rapidamente em um espaço de tempo de 05 minutos. Perde-se aí mais uma vertente jornalística (por falta de tempo), tão importante quanto a vertente noticiosa: a interpretação. Justamente por essas influências da era globalizada, o tão famoso jornal da Rede Globo também diminuiu o tempo de suas notícias, transformando-se em um “grande boletim com notas e algumas reportagens completas, num turbilhão de notícias em meio a um espetáculo de sons e imagens”. Tão grande quanto a definição que usei é a alienação dos telespectadores que acompanham o programa.
Homer: O telespectador do JN, segundo Bonner

O futuro do telejornalismo no país é cheio de questões e problemas, mas deixa claro alguns detalhes. Com a população tendo cada vez mais oportunidades de escolha e de acesso à informação, os telejornais tem que buscar cada vez mais uma qualidade maior, colocando temas importantes para debates nas conversas da população. Mas com a “censura” imposta pelos editores dos telejornais, com a desculpa de que “seus telespectadores são preguiçosos e não refletem sobre as notícias”, essa busca pela qualidade fica difícil. E, mais do que nunca, quando a música do jornal terminar, as notícias que os telespectadores viram no jornal são deletadas da mente, dando espaço para temas como “quem matou Odete Roitman”, “quem explodiu o shopping” ou “por onde anda Bia Falcão”.

Texto na íntegra que originou o artigo Jornal Nacional, publicado no Jornal de Piracicaba. O artigo circulou no jornal do dia 14 de Junho de 2006, e foi escrito por mim, em conjunto com o professor de jornalismo da Puc Campinas, Rogério Bazi. Valeu a força, Rogério!

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